A vida que eu esolhi

Agora finalmente eu tenho Tempo. Aprendi o que era o Tempo. Descobri o que era o Tempo.
Um inimigo voraz que nos torna cada vez menos novos,
Um ladrão de sonhos que amargamente nos diz todos os dias que não poderemos ler os livros todos do mundo nem visitar todos os lugares mágicos que sonhamos e esperamos conhecer...
O Tempo é um padrasto ruim que nos rouba a velha infância que nos deu a Vida, nossa mãe.
Então porque é que a Vida se juntou ao Tempo se ele devagarinho nos mata?
Eu tenho a resposta a esta pergunta mas respondê-la-ei talvez noutra ocasião.

O que eu quero dizer agora é que me entendi com o meu padrasto Tempo.

Roubava-me o lugar na cama preguiçosa, e nunca tinha oportunidade para fazer as lidas da casa e muito menos estar com aqueles de quem gosto... e o Tempo vinha e ria-se de mim, porque vinha para casa, sozinha, cá ficava até à hora de deitar, e uma vida sem sentido assim vivida, há quanto e há tanto tempo...

O Tempo nunca foi meu amigo. Até agora.

Porque agora nem me preocupo muito com ele, porque descobri uma arma que não o mata mas que o enfraquece quando se me quer fugir:

Faço hoje aquilo que posso fazer, sem deixar para amanhã.

Dou hoje os abraços que tenho prometidos e os beijos e os sorrisos, e a loiça suja também a lavo, e a comida e a roupa para estender, e a para recolher e a de passar também, e vou fazendo um pouco ada dia porque é preciso...

Porque olhar para o que o Tempo já me roubou não o trará de volta. Eu, que aprendi a deixar o stress na cidade, porque vinda da Universidade trazia um stress de trabalhar e estudar que acabei por me descurar completamente de tudo aquilo que não fosse relacionado com a Universidade.

E infelizmente deixei-me de coisas que me faziam "eu", coisas que me cultivavam... Talvez por querer fazer parte da massa, mas porquê fazer parte da massa quando eu gosto tanto de ser eu?

Nós tendemos a olhar para os outros como todos iguais e comuns e para nós próprios como seres superiores e diferentes, exclusivíssimos e inteligentes. Eu confesso que já me achei mais diferentíssima do resto do mundo, mas confesso-vos que não somos assim tanto. Considero-me no entanto, peculiar o suficiente para me distinguir da maioria das pessoas. Acredito que seja pela positiva...

Mas agora tudo isso, todo esse stress e essa pressão desapareceram um pouco -- gradativamente confesso -- porque compreendi que era uma pessoa muito ansiosa e stressada de mim própria (e o café ajudava).

Por isso agora, na minha aldeia transmontana passeio cães, faço guisados e assados para a minha família (ainda pequenina), visito os vizinhos e amigos de onde trago tomates e orégãos, guindas e panos, onde quem quer dar dá o que tem e de bom grado.

Sou feliz aqui. Depois de passar a querer sê-lo e aprender que para ser feliz, é preciso desapegar...

É tão difícil desapegar. Nós somos tão amantes de coisas e de confortos e de compras! Ah, a sério, de compras. Roupas, roupinhas, coisinhas. Tralha que mais tarde deitamos fora para arranjar mais tralha, ou queremos uma casa maior para arranjar mais espaço para a tralha.

Uma vez um sábio disse que disse algo como "se tens algo que não te consegues desfazer, então isso é que te possui".. e acho que as nossas coisas nos possuem e nos limitam...

Não que com isto agora tenhamos que destralhar e só vivermos com o mínimo indispensável, mas quanta não será a bagagem pesada que carregamos sem necessidade? Quantas coisas ruins carregamos dentro do oração?

Largar -- largar o preconceito, o auto-escrutínio excessivo, o constante julgar e analisar da vida do outro? -- Libertei-me de umas coisinhas pequeninas -- e de algum modo o dia tornou-se mais longo.

Quão grande se torna o pequeno quando importânia se lhe dá.

Outro sábio uma vez nos disse, a todos nós, que -- apesar de termos todos uma carga a carregar -- o fardo que ele nos propunha era leve, leve (Mt 28:30)






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